Vinil é bom e eu gosto

Tenho amigos que concordam comigo, amigos que discordam e amigos que não se pronunciam.
Eu gosto de vinil. Sempre gostei, desde que o mais próximo que tínhamos de aparelho de som era uma radiola. A radiola era um aparelho que tinha rádio e toca-discos junto. O toca-discos era basculante e o braço da agulha tinha que ficar travado. O toca-discos tinha molas que serviam para eliminar balanços, muito útil em casas antigas com piso de assoalho. A nossa era portátil, mais acessível que aqueles modelos maiores, que eram verdadeiros aparadores - e muita gente os usava com esse fim também.
A grana era curta então não era sempre que rolava comprar disco novo. Era sempre no aniversário, durante muitos anos, que eu "ganhava" um disco. Os primeiros? Bill Haley & The Comets, The Beatles In The Beginning, Isto É Hollywood e os Video/Flipper Hits da vida.
Minha mãe tinha um do Elvis, duplo e um do Simon & Garfunkel. Apesar da "proibição" de ficar ouvindo esses dois, chegamos a furá-los de tanto ouvir.
Nas duas últimas semanas digitalizei alguns discos, fitas e fitas de vídeo (só o áudio) com o auxílio de um conversor.
O aparelho é de fácil utilização e até alguns CDs acabei digitalizando com ele, por causa desse controle de volume de gravação. Muito útil, pois alguns LPs e fitas tem o som muito baixo. Meu toca-fitas (Yamaha) ajuda, pois tem um controle que ajusta a cabeça de reprodução, melhorando o som. Esse aparelho capta as músicas com opção de criação automática de faixas (nem sempre funciona) ou manual. Discos ao vivo, por exemplo, tem que ter as faixas criadas manualmente. 
A interface é o iTunes, numa versão antiga. O que tenho feito é copiar a biblioteca do iTunes, após a captação das músicas, e adicionado os arquivos usando uma versão atualizada, em outro computador. Tocando as músicas no iPod quase não dá para dizer de onde elas saíram.
Assista o mini-documentário abaixo.
Nem precisa dizer mais. O vinil tem essa coisa da experiência tátil e até olfativa. O cheiro do disco novo, o cuidado com o plástico (quando vinha com ele), o cuidado com o próprio disco e a audição ad infinitum. Como não era todo dia que tinha disco novo, a capa era diligentemente estudada e decorada. Era assim que eu identificava, em discos diferentes, um mesmo estúdio, um mesmo músico convidado, o produtor, etc. Me frustrava quando queria muito um disco e ele não vinha com encarte. Achava uma economia tosca. Decorava tudo na capa e se tivesse letras, em uma semana já tinha decorado essas também. O CD trouxe um encantamento diferente. A qualidade do som, a possibilidade de tocar uma certa faixa direto, sem ter que levantar agulha e tal. Gravar fitas era uma baba. Bastava programar as músicas e ajustar o tempo à duração das fitas. Às vezes era necessário fazer um ajuste no final, uma edição, usando o controle de gravação, para não ficar aquele corte brusco. Bacana era quando a gravação ficava justinha. As fitas? Quando tinha grana sobrando, fitas cromo, cujo som era muito melhor. Eram reservadas para as melhores seleções. Fazer a capa também exigia cuidado.
Voltando ao CD, era um passo em direção ao século XXI. Nosso primeiro CD player veio em 92, se não me falha a memória. Era um carrossel Sony que foi acoplado a um aparelho de som da Gradiente, um Roxy II.

O nosso aparelho era igual, as caixas não. Ele vinha ainda com um rack próprio e toca-discos.
Os botões do toca-fitas não eram mecânicos, mas elétricos, mais suaves, davam menos aquele ruído "click" quando se acionava o gravador. Atenuávamos isso com o útil controle de volume de gravação.
Tudo isso fazia parte do ritual que era ouvir música em tempos analógicos. Um disco era rapidamente copiado para os amigos. As tardes eram preenchidas com sessões de gravação sempre que alguém aparecia com um disco que valia a pena ter. Como as fitas eram mais baratas, copiávamos.
Mais trabalhoso, mas não menos divertido, era fazer as famosas "mix tapes". Combinar músicas era uma arte. Dependia de para quem seria feita a fita e que "mensagem" queríamos passar. Quase sempre as fitas era para uso pessoal mesmo. Eu fazia seleções - que mais tarde virariam meus CDs "Road Music" - nas quais combinava as músicas em estilo. Para festas era mais divertido também, pois não precisava ficar trocando o disco a cada 20/30 minutos.
A decisão sobre qual disco comprar com a grana que tinha era frequentemente dolorosa. Muitas vezes eu sabia exatamente o que queria e ia direto. Outras vezes, passava e repassava os discos separando mentalmente os candidatos. Me lembro da época do lançamento do "Afterburner" do ZZ Top, lá nos idos de 1985, se não me falha a memória. Era a primeira vez, que eu me lembre, que eu conseguia encontrar discos do ZZ Top lá no interior. Me frustrei porque não vinha com encarte, mas comprei com certeza, sem a mais vaga sombra de dúvida. 
Esse processo de digitalização acabou por trazer certas dessas experiências de volta. Cabos para lá e para cá, gravações que não dão certo e tem que ser refeitas - e acabamos tendo que ouvir a mesma música várias vezes. Por que estou digitalizando? Porque quero ter a possibilidade de ouvir a música de alguns LPs em qualquer lugar. Porque quero "poupar" meus discos de manuseio exagerado. E...por que não?



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