Test-ride de ciclovia

Na manhã de ontem resolvi espantar a preguiça e saí para experimentar alguns dos muitos quilômetros de ciclovias entregues pelo GDF desde o ano passado.
Sem compromisso com exercício, passei a câmera em torno do pescoço e me mandei, saindo da 308 norte. Peguei a ciclovia na 708 Norte em frente ao CEUB. Pedacinho difícil pois a ciclovia aqui é interrompida pelas várias entradas e saídas da universidade, além dos bolsões de estacionamento. Mas era domingo de manhã, o dia estava bonito e tranquilo. Fui seguindo pela via, construída no canteiro central da W4. A primeira interrupção mais séria fica lá no começo, depois do Colégio Militar. No balão, o ciclista tem que, ou atravessar pela esquerda e contornar ou pela direita, pedalar uns 15 metros pela rua e só então retomar a ciclovia. Nada grave, mas há que se buscar uma solução. Alguns experts já fizeram análises das ciclovias brasilienses. A cidade foi meio que pensada para carros, com deslocamentos a pé dificultados pela constante interrupção de vias de acesso, tesourinhas, viadutos, etc. Assim, as ciclovias sofrem do mesmo mal. Em alguns pontos não há solução possível, a não ser fazer grandes desvios, aumentando a distância a ser percorrida.
Aqui já bem próximo da zona central da cidade, a ciclovia bifurca-se, com uma pista indo em direção ao complexo do estádio Mané Garrincha/Autódromo Nelson Piquet.
O concreto é irregular, na melhor das hipóteses. Em alguns pontos é perfeito, em outros nem tanto. Há muitos pontos onde o descuido e a falta de um acompanhamento técnico criaram bizarrices como curvas desnecessárias, falta de meio-fio para conter terra, enxurradas, etc., além de concreto mal alisado e cheio de imperfeições. Na 108 norte, um veículo pequeno que trabalhava nas obras foi o responsável pelo afundamento e rachaduras do trecho recém-construído.
Acessar o trecho central, construído no canteiro do Eixo Monumental, também não é coisa simples. Há que se atravessar pelas travessias dos semáforos, mas em alguns trechos, chegar a essas travessias requer o cruzamento de vias sem semáforo e sem faixas de pedestre.
Outro problema das novas ciclovias, facilmente observável à noite, é a falta de iluminação. Não passou pela cabeça dos planejadores que elas poderiam ser utilizadas à noite. Se o problema é sério nas quadras residenciais, aqui no Eixo Monumental oeste é ainda pior, pois ela cruza longos trechos nos quais a única iluminação vem dos postes do lado oposto da faixa de circulação de veículos, insuficiente para clarear a escuridão do canteiro central, objeto de post anterior.
De dia é muito bacana pedalar por aqui, entre espécies nativas do cerrado. Quando os ipês e barrigudas (paineiras) estão em flor então, nem se fala.
Fui até o Monumento a JK e voltei. A ciclovia segue ainda mais um bom pedaço, na direção do Setor Militar Urbano. Aos domingos e feriados é ativada a ciclofaixa, entre 7 e 16 horas. Desnecessária, a meu ver.
Se as ciclovias em Brasília ainda não são perfeitas, a mesma coisa pode-se dizer dos ciclistas. Muitos, muitos deles ainda preferem ignorar sua existência e trafegar nas vias junto com os carros. É grande o número de ciclistas que trafegam sem qualquer sinalização - inclusive à noite - seja do tipo pisca-pisca, refletivos, faróis, etc. Dentro desta categoria encaixam-se muitos indivíduos que deveriam fazer a coisa certa, pois são as maiores vítimas do trânsito: os que estão sempre "em treinamento". Para estes, parece que as ciclovias não servem, pois raramente as usam.
Voltando às áreas escuras, a ciclovia atravessa esta plantação de mangueiras na área defronte à Câmara Distrital, Palácio do Buriti e em torno do Museu do Índio. Linda e agradável de dia, um breu à noite.

Aqui, entre o Monumento a JK e a Torre de TV encontramos os trechos com o concreto mais bem feito de todo o percurso. Lisinho e sem ondulações, contrastam fortemente com o concreto encontrado nas áreas residenciais.
Há boa sinalização na área central. Inexistente nas áreas mais distantes.
Por falar em sinalização, aliás, os mais observadores devem ter notado os novos picolés instalados nas áreas residenciais.
Bilíngues, eles indicam a posição da superquadra num mapa da cidade, a posição dos blocos (prédios de apartamentos para quem não é de Brasília) na Superquadra, além de informações sobre pontos de ônibus e passagens subterrâneas. O material parece bem resistente, mas isso só o tempo - e os vândalos - dirão.
Atravessar a região da rodoviária do Plano Piloto é tarefa mais difícil. A ciclovia termina na pista de retorno, em ambos os lados, leste e oeste, e o ciclista se vê tendo que negociar a via com ônibus, táxis e outros veículos. Temerário.


Houve plantio de árvores típicas do cerrado, ladeando a ciclovia, na região da Esplanada dos Ministérios. Essa atitude, muito bem vinda a meu ver, foi criticada pela filha de Lúcio Costa, pois segundo ela o plano original não previa árvores a fim de deixar a vista totalmente livre. Bobagem a meu ver. A sombra, neste descampado, será uma bênção.
Depois deste trecho, retornei para casa pelo Eixão. Pelo pouco que vi, aprovei. As ciclovias no DF ainda precisam de algumas soluções, como a iluminação, para torná-las mais utilizáveis, além de melhores acessos em certos pontos, como a área central. Bicicletários seguros também seriam muito bem vindos.

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