Bocha´s Bar

Esse é o nome atual de um botequim que existe lá em Pirapó há décadas. Continua o mesmo ponto de encontro que sempre foi. Ficou conhecido por muito tempo como o bar do seu Cardoso. 
O bar, que fica defronte a um posto de gasolina, um dos mais antigos, senão O mais antigo da cidade, sempre foi movimentado. Em algumas épocas, aos sábados e domingos, a televisão de cachorro cheia de frangos assados e a farofa da esposa do seu Cardoso garantia a freguesia e o almoço de domingo de muita gente. Ela fazia também um molho de pimenta que era um sucesso com os salgados vendidos no bar. Meu pai foi uma das poucas pessoas, senão a única, que conseguiu a receita do tal molho. Isso porque não morávamos em Pirapó ainda.
O bar trocou de mãos algumas vezes. A saúde do seu Cardoso não lhe permitiu seguir tocando o bar. E eis que, há algum tempo, o bar foi adquirido por outra grande figura, o Beto. Esse cidadão de Palmital, ex-agricultor, distribuidor de cachaça e gente boa de carteirinha resolveu tocar o negócio. Não, não estou fazendo propaganda gratuita para um amigo. Beto tem muito superlativo a respeito de sua pessoa: sua circunferência avantajada, seu coração gigantesco, sua alegria, competência e o carinho quase infinito para com os amigos. Beto colocou algumas coisas nos seus lugares, enxotou alguns indesejáveis - e ainda enxota, é só dar nos nervos do homem - manteve a cara geral do lugar, melhorou as instalações, passou a servir comidinhas e quitutes de ótima qualidade e assim resgatou a fama do lugar. Não brinque com ele, no entanto. 
Mas, divago. Esse bar, desde tempos imemoriais, tinha como principal atrativo a pista de bocha. O jogo, trazido pelos imigrantes italianos, era jogado nos fundos do bar quase todos os dias da semana. É praticamente impossível encontrar alguém em Pirapozinho, com mais de 30 anos, que nunca tenha colocado os pés na bocha do bar do seu Cardoso. 
A foto é recente. As instalações pouco ou nada receberam de melhorias ou reparos ao longo desses longos anos. O espaço hoje é pouco utilizado, a bocha praticamente esquecida. Beto comenta com uma certa tristeza que a garotada não redescobriu esse divertido passatempo. Aqueles com mais de 30 igualmente não querem mais saber desse "jogo de velho". E assim, Beto resignou-se e decidiu por desmanchar a histórica instalação. 
É triste realmente ver algo assim acontecer. A cidade perde sua identidade a cada dia que passa. Casas construídas há 50 anos ou mais acabam por dar lugar a monstruosidades de dois andares para comércio. Somem pequenos jardins, somem quintais, somem varandas. 
Nesta pista de bocha batalhas memoráveis foram travadas, apostas ganhas e perdidas, amizades feitas e desfeitas (estas, acredito, foram poucas). A ideia do jogo é muito simples: um bolete (bolinha pequena) é jogada. 






Alternadamente, cada jogador joga suas bolas e tenta deixá-las o mais próximo possível do bolete. Quando mais bolas, mais pontos. O curling de hoje é jogado pelo mesmo princípio. 

Infelizmente não há mais interesse pelo jogo na cidade. Outras pistas de bocha já foram abandonadas antes. Esta era a última. Não sei o que Beto pretende fazer no lugar. Gostaria que ele reconsiderasse. Uma reforma patrocinada do local, um evento como um campeonato talvez pudessem fazer reviver o interesse pelo jogo. Sozinho, Beto não tem condições de fazê-lo. O lugar precisa dar lucro, é a vida. Após uma conversa com ele, resolvi fotografar o lugar, antes que desaparecesse. Queria fazer um apelo ao amigo, mas acho que não tenho esse direito. 
Ficam memórias de outros tempos, como a bem humorada placa que ficava sobre o "placar",
o caixote, ainda utilizado, para jogar as tampinhas de garrafa (honestamente não sei se já foi utilizado para outra coisa, como guardar as bolas, por exemplo, talvez sim).
















Aqui na frente a vida continua.
















Lá atrás, mais uma página da história da cidade vai ser virada. E não sei quantos vão se lembrar dela.

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