As bolachas na minha discoteca

Não tem jeito, vou escrever sobre música de novo. É que acabei de dar uma reorganizada nos meus discos de vinil, e os estou curtindo um tiquinho.
Quem acompanha estes malfeitos posts sabe que gosto de música. Só não me pergunte por que nunca aprendi a tocar um instrumento. Bem, a resposta é fácil: sempre gostei de cantar. Cantava adoidado no chuveiro, quando morava em casa. Em apartamento a gente fica mais intimidado, não sei.
Pensei em talvez mostrar algumas coisas que tenho na parte de baixo do meu aparelho de som, aquele cantinho mágico onde guardo os discos de vinil, os LPs, os bolachões. Sem me ater a cronologias ou nada disso. Vamos lá?
Comecemos com esse aqui, que está tocando agora:
Esse sujeito pode ser considerado o rei do vibrato. Pouca gente o faz como ele. O cara toca essa Fender Jazzmaster até com o chapéu. Seu estilo? Chicago. Puro. Cru. Direto. Esse disco contém a melhor versão de "Mustang Sally" que já ouvi, e olha que tenho várias em casa. Lançado pela Alligator Records, comprei esse álbum numa época em que praticamente só ouvia blues. E é bom demais voltar a ouvir isso. Tem ainda músicas cujos títulos são pérolas, como "What Makes a Woman Treat a Good Man So Bad?" e "You Can't Lose What You Never Had".
O primeiro disco que eu comprei e que chamei de meu:
A formação inicial, com Pete Best nas baquetas. Ouvi esse disco à exaustão, tanto que nem sei como ele ainda toca. Tem oito músicas, sendo sete covers. A única assinada por eles é a instrumental que fecha o disco, chamada "Cry For a Shadow". Mas ainda não era assinada pela dupla Lennon-McCartney, mas por Harrison-Lennon. Entre as covers, "Let's Dance", "Ya-Ya", "Sweet Georgia Brown" e a onipresente "What I Say". Formou a base para que eu continuasse a ouvir rock. Já tinha Elvis e Bill Haley em casa. Aliás, a versão de "A Hard Day's Night" que tenho veio como "Os Reis do Ié-Ié-Ié" (ai...).
Right, moving on. Nos anos 80 os comerciais de cigarro eram transadíssimos e faziam sucesso, principalmente os dos cigarros Hollywood. Sim, alguns de vocês provavelmente já sabem onde vai dar isto.
Aqui:
A foto é do compacto, mas as capas eram iguais. Essa bagaça contém Asia, Journey, Santana, Toto, Chicago, REO Speedwagon e The Police, entre outros. Acima de tudo continha a pegajosa "Eye of the Tiger". Esse disco meu, aliás, rolou em tudo quanto foi festinha e até na rádio AM da cidade ele foi parar na época. Ainda toca, como eu não sei.
Aliás, sei. Sempre cuidei muito bem dos meus discos. Houve uma época em que eu não emprestava por nada no mundo. Sempre tirava um tempinho para limpá-los, com algodão embebido em álcool.
Nem só de música americana, estrambólica eu vivia. O rock nacional e a música regional também tinham vez. Esta última menos, foi mais intensa já na era do CD. Mas tenho um disco do...sorry...era uma fase (que graças a Deus, passou): Osvaldo Montenegro. Sim, e também tive a fase Raul Seixas. Mas esse é quase discoteca básica.
Mas, vamos mostrar uns aqui. Clássico do rock nacional, dançávamos essas músicas nas brincadeiras dançantes no sábado à noite, com as discotecagens do Primo, do Adilson e do Nelsinho. Só me lembro deles.
Esse disco tocou praticamente inteiro, assim como o "Nós Vamos Invadir Sua Praia", do Ultraje. Até então, de sucesso para os Paralamas só "Cinema Mudo" e "Vital e Sua Moto". Mas esta pérola acima contém as insuperáveis "Óculos" (a rapaziada me colocava no meio da roda quando tocava essa), "Meu Erro", "Romance Ideal", "Ska", "Mensagem de Amor" e "Assaltaram a Gramática". Uau. Era o rock nacional arrombando a porta com os dois pés. No colégio, numa apresentação, formamos um "trio" e dublamos "Meu Erro", eu na bateria (ah, ah), Rosildo com um violão e o Mi Marrafon com outro imitando baixo. Hilário.
O "Grande Coisa" nem de longe é o melhor disco do Premê, mas tem a clássica "Rubens". Fazendo a linha de música com humor, representava a classe intelectualizada paulistana, junto com o Língua de Trapo. Mas os caras do Premê sempre foram muito superiores musicalmente, muito mais sofisticados.
Nessa mesma época uns loucos baianos faziam sucesso com um rock mais cru e bem de baixa qualidade, com umas guitarrinhas muito sem-vergonha. Os caras eram egressos do movimento punk e faziam rock com altas doses de crítica social Estou falando deles:
Quando eles gravaram este disco (cujo show acabou sendo meu primeiro) os caras já tinham uma carrada de sucesso e eles estão todos aqui. "Bete Morreu", "Sílvia", "Eu Não Matei Joana D'Arc", "Metástase", "O Adventista" (nesta ele "reza" o Pai Nosso), a versão marceleza para "My Way", "Hoje" e por aí vai. Fomos comprar esse disco (eu tinha a grana, em minha defesa) nas Lojas Americanas e meu homônimo, parceiro de muitas horas, resolveu que queria um para ele também. Não teve dúvidas, tirou uma bolacha da capa e tascou dentro do que eu estava comprando. Desnecessário dizer que fomos pegos, com aquelas caras de surpresa...Mas comprei o disco assim mesmo. Clássico. Das dez músicas, nove tinham sua execução no rádio proibidas...Hilário. A gente cantava a altos pulmões.
Este é da fase mais recente, depois que voltei a comprar LPs, dos parrudos de 180g e caros paca. Bem, caros no Brasil, porque em Portugal e nos EUA fiz a festa.
Este fiz questão de ter em vinil, pois é um clássico digno de qualquer coleção:
Este contém pérolas como "You Are The Sunshine Of My Life" e "Superstition" entre outras. Uma beleza de disco. Em versão 180g então, tem um som incomparável. Devo dizer que minha mãe é responsável por eu gostar de Stevie Wonder. Entre os muitos compactos que tínhamos em casa havia um dele, com o selo alaranjado/marrom da Odeon, contendo "Yester-Me, Yester-You, Yesterday", música que adoro até hoje. O lado B não me lembro o que era. Excellent. Há quem prefira "Innervisions" (que também tenho), mas este fala por si só.
Em Pirapozinho apareceu um sujeito certa vez, mineirinho, tímido que só ele, recém-aprovado no concurso do Banco do Brasil, o Albert. O cara era um monstro. Logo descobrimos sua paixão por música. E não era qualquer coisa, muito rock de boa qualidade e muita coisa estranha também. Bom, o Albert não era casado, ajudava a família em Minas e um belo dia descobriu o CD. De uma hora para a outra resolveu se desfazer de sua coleção de vinis para comprar tudo em CD. Acabei lucrando alto. Fiquei com uma porrada de coisas, mas nada estranho. O mais estranho que "herdei" foi este:
Esse disco teve uma faixa que tocou um bocado e seu vídeo rolava direto nos programas da época, "Victoria". Muito legal, mas um tanto demais para mim.
O Albert também me passou dois ótimos do Dire Straits:
e
Só quero incluir mais dois aqui. Estes comprei quando estava na faculdade, começando a ser educado nos caminhos do blues pelo meu então professor Álvaro Hattnher. Mas as escolhas foram inteiramente minhas. Comecemos com
Essa beleza de disco tem um lado em estúdio e outro ao vivo. Mas o lado em estúdio foi todo gravado numa paulada só, com músicos mais jovens. O lado A, ao vivo, tem gravações de clássicos do blues. Meu lado preferido é o lado de estúdio, que tem gemas preciosas como "Why I Sing the Blues" e "Get Off My Back".
Outra raridade que adquiri nessa época era importada ainda e o bom Álvaro aparentemente desconhecia - pelo menos foi essa a reação dele depois de ouvir uma fita que gravei e que tinha esse disco no lado A e Snooks Eaglin no lado B.
Country blues. O mais puro e básico blues que se pode fazer. Booker T. Washington era, segundo consta, primo daquele que viria a ser conhecido como BB King. Consta ainda que ele ensinou o primo a tocar guitarra. Fez de tudo, inclusive passar uma temporada na cadeia. Nessa época escreveu um dos grandes clássicos do blues, "Parchman Farm Blues", cujo refrão diz "I wonder how long/Before I can change my clothes". Insuperável. Cheers.



Comentários

Neste 'post' eu senti firmeza!

Só numa coisa eu acho que suplantei teu conhecimento enciclopédico discotecático: nunca tive fase Oswaldo Montenegro.

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