Carta ao amigo que partiu
Faz dois anos que escrevi uma mal traçada homenagem a você, caro amigo. Faz dois anos que você, prematuramente, partiu para outros voos. Naquela ocasião foi difícil lidar com um sentimento mesclado de dor, perda, vazio. Não sabia qual era qual. Ainda não caiu a ficha, cara. Ainda não sei qual é qual. A vida é uma coisa bizarra, pois por mais que queiramos não nos distanciar daqueles a quem queremos bem, isso acaba por acontecer. Perdemos contato, né? E por muitos anos. Senti muito sua falta naqueles anos todos. Fiz muitos amigos, é bem verdade, mas o primeiro grande amigo é bem como o primeiro grande amor...
Acho que nunca tive a chance de dizer o quanto aprendi com você, o quanto sua amizade influenciou minha vida. Quando reestabelecemos contato há alguns anos, foi, de certa forma, como se nunca tivéssemos perdido contato. Eu me comportei acreditando piamente nisso. Mas, claro, isso não era verdade. Fui bem relaxado, preguiçoso, acomodado. O que me impediu de pegar o telefone e ligar? Acho que só a certeza de que não mais ficaríamos isolados de novo. Era questão de tempo e retomaríamos nossa amizade de onde parou. E me acomodei, bicho. Fiquei ali, olhando o telefone e pensando "amanhã eu ligo pra ele", "amanhã ou no próximo finds a gente se fala". Daí você se mandou, velho. E sobrou o vazio. E hoje, do nada, pensando na vida, desatei a pensar no quanto eu aprendi com você. Vamos ver? Rock'n'roll: ok, minha mãe é fanzoca de Elvis e tinha um disco dele lá em casa, e um do Bill Haley também. Mas sua discoteca era variada praca. Com você descobri Beatles e daí começou minha história com a língua inglesa. Sabe como? Eu não suportava não saber o que eles estavam cantando. Felizmente aqueles discos tinham letras e eu desandei a copiá-las. Lembra que passava vários dias com os encartes dos discos em casa, copiando-os a máquina?
Começou aquim com este disco. Depois seguiram-se outros, como este:
E sabe o que mais? Não foi só a paixão pelas músicas, foi também a atração pela língua. Além de querer saber as letras queria saber exatamente o que significavam aquelas palavras. Na sua casa ainda aprendi a ouvir isto
e isto
Bem, a este fui apresentado primeiro pelo meu irmão, mas você acabou arranjando o disco e o ouvimos juntos um bocado de vezes.
A isto também fui apresentado por você:
E isto:
Isso sem falar na paixão pelas motos. Naqueles tempos até parecia que eu não tinha opinião própria, ganhei uma dessas logo depois de você:
Só não lembro se a minha ou a sua (que era azul) tinha banco inteiriço. Deopis você partiu para esta aqui:
A sua era branca com guidão mais baixo e banco rabeta. Eu cheguei nesta:
Assim mesmo, sem qualquer alteração. Na sua casa ainda me lembro destas:
E quando você ganhou esta, pensei que ia demorar para eu alcançar:
OK, a sua era preta e você logo instalou uma mini-carenagem que a fazia ficar igual à japonesa.
Viu, velho? Música e motos e mais um monte de coisas. Mas acabou que eu nunca disse isso tudo a você. e isso me persegue. Se você ainda estivesse por aqui, quero acreditar que eu ganharia um abraço e tudo estaria bem. Um dia, quem sabe...Obrigado por tudo.
Acho que nunca tive a chance de dizer o quanto aprendi com você, o quanto sua amizade influenciou minha vida. Quando reestabelecemos contato há alguns anos, foi, de certa forma, como se nunca tivéssemos perdido contato. Eu me comportei acreditando piamente nisso. Mas, claro, isso não era verdade. Fui bem relaxado, preguiçoso, acomodado. O que me impediu de pegar o telefone e ligar? Acho que só a certeza de que não mais ficaríamos isolados de novo. Era questão de tempo e retomaríamos nossa amizade de onde parou. E me acomodei, bicho. Fiquei ali, olhando o telefone e pensando "amanhã eu ligo pra ele", "amanhã ou no próximo finds a gente se fala". Daí você se mandou, velho. E sobrou o vazio. E hoje, do nada, pensando na vida, desatei a pensar no quanto eu aprendi com você. Vamos ver? Rock'n'roll: ok, minha mãe é fanzoca de Elvis e tinha um disco dele lá em casa, e um do Bill Haley também. Mas sua discoteca era variada praca. Com você descobri Beatles e daí começou minha história com a língua inglesa. Sabe como? Eu não suportava não saber o que eles estavam cantando. Felizmente aqueles discos tinham letras e eu desandei a copiá-las. Lembra que passava vários dias com os encartes dos discos em casa, copiando-os a máquina?
Começou aquim com este disco. Depois seguiram-se outros, como este:
E sabe o que mais? Não foi só a paixão pelas músicas, foi também a atração pela língua. Além de querer saber as letras queria saber exatamente o que significavam aquelas palavras. Na sua casa ainda aprendi a ouvir isto
e isto
Bem, a este fui apresentado primeiro pelo meu irmão, mas você acabou arranjando o disco e o ouvimos juntos um bocado de vezes.
A isto também fui apresentado por você:
E isto:
Isso sem falar na paixão pelas motos. Naqueles tempos até parecia que eu não tinha opinião própria, ganhei uma dessas logo depois de você:
Só não lembro se a minha ou a sua (que era azul) tinha banco inteiriço. Deopis você partiu para esta aqui:
A sua era branca com guidão mais baixo e banco rabeta. Eu cheguei nesta:
Assim mesmo, sem qualquer alteração. Na sua casa ainda me lembro destas:
E quando você ganhou esta, pensei que ia demorar para eu alcançar:
OK, a sua era preta e você logo instalou uma mini-carenagem que a fazia ficar igual à japonesa.
Viu, velho? Música e motos e mais um monte de coisas. Mas acabou que eu nunca disse isso tudo a você. e isso me persegue. Se você ainda estivesse por aqui, quero acreditar que eu ganharia um abraço e tudo estaria bem. Um dia, quem sabe...Obrigado por tudo.
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