Segundo dia
Depois de oito horas na cama, levanto para checar um barulhinho e ver a temperatura do lado de fora. E, para minha surpresa, descubro que está garoando! Sair com frio e chuva vai ser fantástico...Para completar o café da manhã no hotel só a partir das sete da manhã. Saio com um misto-quente do dia anterior e um todinho.
x - x
Foi pior do que eu esperava. Quase desisti da empreitada toda. Os três engarrafamentos em BH consumiram quase uma hora do meu tempo, sob garoa, aos quais se seguiram por horas horrorosas no infeliz trecho da 040 depois de BH. Entre a capital e Congonhas o tráfego de caminhões basculantes que carregam minério da unidade da Vale ali, deixam a estrada em mau estado e cheia de um pó negro que gruda em absolutamente tudo. Para completar, chovia e eu tinha que lidar com o "spray" dos carros e caminhões, o que torna impossível enxergar qualquer coisa. Ainda por cima, por causa da estrada não muito boa, não consigo imprimir velocidade suficiente para escoar a água da viseira, por isso tenho que ficar limpando o tempo todo com a luva, que a este ponto já está ficando encharcada. As luvas "impermeáveis" em pouco tempo estavam totalmente encharcadas. Tirá-las e calçá-las novamente tornou-se uma tarefa complicada. Minha roupa, a Branca e o capacete totalmente lambuzados pelo que virei a descobrir depois ser a tal lama de minério, difícil de tirar da moto.
Percebi, na parada acima, que as capas de chuva dos alforges estavam pegando água. Não sei se não soube instalá-las direito ou se elas não são feitas para esse tipo de uso, com muita chuva e asfalto imperfeito. O fato é que ambas pegaram muita água. E água suja. Isso traria ainda mais dissabores, mais tarde.
Antes deste trecho um susto. Numa descida leve sou ultrapassado por um Celta em alta velocidade, e mais alguns veículos. Entramos todos numa curva, à qual se seguia uma baixada. Vejo o Celta levantar uma parede de água e só aí percebo que tem uma poça gigantesca cobrindo as duas pistas no sentido em que seguia. Consigo ver também o Celta perder o controle e dançar pela pista. Meu instinto voltou-se rapidamente para o problema da poça à minha frente, pois eu vinha a uns 100 km/h. Rapidamente chequei o retrovisor para confirmar se havia veículos vindo atrás de mim. Tudo limpo, juntei com coragem nos freios, tocando ligeiramente para a beira da pista da direita. Ao ver que não havia trânsito atrás ou na pista oposta, desviei da poça e só então vi que o Celta estava encravado no barranco do outro lado da pista. Por sorte do rapaz não havia trânsito na via oposta e ele safou-se de um acidente mais grave. Vários carros pararam. Enquanto dois sujeitos ajudavam o rapaz a desencalhar o Celta, eu sinalizava para que os carros, ônibus e caminhões diminuíssem a velocidade naquele ponto. Um grande susto. Tive sorte de ter o Celta me ultrapassando daquela forma, caso contrário eu teria entrado naquela poça muito rápido e corria o risco de eu mesmo sofrer uma queda ali.
Lá pelo meio-dia, num trecho já bem melhor da estrada, mas o com o espírito abalado pelo trecho difícil, fiz uma longa parada, para comer, abastecer e fazer uma análise da situação. Até aqui eu já considerava alterar a programação, desistir de Rio das Ostras, ou até mesmo dormir em algum lugar e acabar de chegar no dia seguinte. Perdi um tempo precioso neste segundo dia e chegar a Rio das Ostras com luz parecia uma tarefa impossível. Considerei várias alternativas. Aproveitei a parada longa e fiquei tentando pôr ordem nas ideias. Mandei mensagem para a Bia, genérica. Papeei com uns caras, que me disseram que a estrada melhorava muito dali para a frente. Até a chuva diminuiu. Tive que fazer uma segunda parada, para tentar me secar e tirar a água das bolsas. Ficava cada vez mais difícil tirar e colocar as luvas. Não queria utilizar o segundo par, que não é impermeável, enquanto o tempo não firmasse, pois aí eu teria dois pares de luvas encharcados e inúteis. A estrada e o tempo melhoraram e fui tocando. Troquei as luvas e me desliguei dos alforges, deixei para resolver quando parasse naquele dia.
Fiquei mais animado quando entrei no estado do Rio de Janeiro, o sol quis mostrar as caras, a estrada é ótima e a paisagem fantástica. Fiz uma parada rápida para abastecimento em Itaipava, enviei mensagem para a Bia de novo e toquei em frente. Fiz uma parada no mirante da estradinha entre Itaipava e Teresópolis para umas fotos rápidas e voltei a andar, pois ainda pegaria vários trechos de trânsito muito intenso.
Muito trânsito em Teresópolis, descida complicada pela BR 116 e chego a Magé. Entre Magé e a BR 101, mais trânsito e perdi um tempo horroroso aqui. Nesta altura, percebi que não chegaria com luz, mas que já estava perto o bastante para um último "push". Consegui, finalmente, entrar na 101. Parei num posto para um repouso, conversei com um sujeito de Rio das Ostras que me recomendou que não pegasse a estrada para Búzios, que continuasse na 101 depois de Rio Bonito, pois os pedágios eram mais baratos e a estrada boa. Continuei, à noite. Tomei alguns sustos com gente tentando atravessar a pista, enfrentei faróis altos de motoristas muito, muito mal-educados, e finalmente cheguei, 1346,1 km depois.
x - x
Ao abri a porta do meu quarto, o cheiro de mofo quase me fez pedir um quarto novo. Os pulsos e as mãos, principalmente, doíam muito. Tirei as roupas das bolsas e descobri que 98% das peças estavam molhadas ou molhadas e sujas. Espalhei tudo pelo quarto, tomado por um desânimo sem tamanho. Liguei o ar-condicionado, tomei um banho e decidi sair para a Cidade do Jazz, local do palco principal do Festival, não muito longe de onde estava hospedado. Lá comi alguma coisa, assisti a um pedaço do show da Orquestra Kuarup e uma das apresentações da Orleans Street Jazz Band:
Esta passeava entre o público, interagindo com ele. Lá pelas dez da noite, me dei por vencido e voltei para a pousada para desabar na cama. Mas demorei para pegar no sono...
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Foi pior do que eu esperava. Quase desisti da empreitada toda. Os três engarrafamentos em BH consumiram quase uma hora do meu tempo, sob garoa, aos quais se seguiram por horas horrorosas no infeliz trecho da 040 depois de BH. Entre a capital e Congonhas o tráfego de caminhões basculantes que carregam minério da unidade da Vale ali, deixam a estrada em mau estado e cheia de um pó negro que gruda em absolutamente tudo. Para completar, chovia e eu tinha que lidar com o "spray" dos carros e caminhões, o que torna impossível enxergar qualquer coisa. Ainda por cima, por causa da estrada não muito boa, não consigo imprimir velocidade suficiente para escoar a água da viseira, por isso tenho que ficar limpando o tempo todo com a luva, que a este ponto já está ficando encharcada. As luvas "impermeáveis" em pouco tempo estavam totalmente encharcadas. Tirá-las e calçá-las novamente tornou-se uma tarefa complicada. Minha roupa, a Branca e o capacete totalmente lambuzados pelo que virei a descobrir depois ser a tal lama de minério, difícil de tirar da moto.
Percebi, na parada acima, que as capas de chuva dos alforges estavam pegando água. Não sei se não soube instalá-las direito ou se elas não são feitas para esse tipo de uso, com muita chuva e asfalto imperfeito. O fato é que ambas pegaram muita água. E água suja. Isso traria ainda mais dissabores, mais tarde.
Antes deste trecho um susto. Numa descida leve sou ultrapassado por um Celta em alta velocidade, e mais alguns veículos. Entramos todos numa curva, à qual se seguia uma baixada. Vejo o Celta levantar uma parede de água e só aí percebo que tem uma poça gigantesca cobrindo as duas pistas no sentido em que seguia. Consigo ver também o Celta perder o controle e dançar pela pista. Meu instinto voltou-se rapidamente para o problema da poça à minha frente, pois eu vinha a uns 100 km/h. Rapidamente chequei o retrovisor para confirmar se havia veículos vindo atrás de mim. Tudo limpo, juntei com coragem nos freios, tocando ligeiramente para a beira da pista da direita. Ao ver que não havia trânsito atrás ou na pista oposta, desviei da poça e só então vi que o Celta estava encravado no barranco do outro lado da pista. Por sorte do rapaz não havia trânsito na via oposta e ele safou-se de um acidente mais grave. Vários carros pararam. Enquanto dois sujeitos ajudavam o rapaz a desencalhar o Celta, eu sinalizava para que os carros, ônibus e caminhões diminuíssem a velocidade naquele ponto. Um grande susto. Tive sorte de ter o Celta me ultrapassando daquela forma, caso contrário eu teria entrado naquela poça muito rápido e corria o risco de eu mesmo sofrer uma queda ali.
Lá pelo meio-dia, num trecho já bem melhor da estrada, mas o com o espírito abalado pelo trecho difícil, fiz uma longa parada, para comer, abastecer e fazer uma análise da situação. Até aqui eu já considerava alterar a programação, desistir de Rio das Ostras, ou até mesmo dormir em algum lugar e acabar de chegar no dia seguinte. Perdi um tempo precioso neste segundo dia e chegar a Rio das Ostras com luz parecia uma tarefa impossível. Considerei várias alternativas. Aproveitei a parada longa e fiquei tentando pôr ordem nas ideias. Mandei mensagem para a Bia, genérica. Papeei com uns caras, que me disseram que a estrada melhorava muito dali para a frente. Até a chuva diminuiu. Tive que fazer uma segunda parada, para tentar me secar e tirar a água das bolsas. Ficava cada vez mais difícil tirar e colocar as luvas. Não queria utilizar o segundo par, que não é impermeável, enquanto o tempo não firmasse, pois aí eu teria dois pares de luvas encharcados e inúteis. A estrada e o tempo melhoraram e fui tocando. Troquei as luvas e me desliguei dos alforges, deixei para resolver quando parasse naquele dia.
Fiquei mais animado quando entrei no estado do Rio de Janeiro, o sol quis mostrar as caras, a estrada é ótima e a paisagem fantástica. Fiz uma parada rápida para abastecimento em Itaipava, enviei mensagem para a Bia de novo e toquei em frente. Fiz uma parada no mirante da estradinha entre Itaipava e Teresópolis para umas fotos rápidas e voltei a andar, pois ainda pegaria vários trechos de trânsito muito intenso.
Muito trânsito em Teresópolis, descida complicada pela BR 116 e chego a Magé. Entre Magé e a BR 101, mais trânsito e perdi um tempo horroroso aqui. Nesta altura, percebi que não chegaria com luz, mas que já estava perto o bastante para um último "push". Consegui, finalmente, entrar na 101. Parei num posto para um repouso, conversei com um sujeito de Rio das Ostras que me recomendou que não pegasse a estrada para Búzios, que continuasse na 101 depois de Rio Bonito, pois os pedágios eram mais baratos e a estrada boa. Continuei, à noite. Tomei alguns sustos com gente tentando atravessar a pista, enfrentei faróis altos de motoristas muito, muito mal-educados, e finalmente cheguei, 1346,1 km depois.
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Ao abri a porta do meu quarto, o cheiro de mofo quase me fez pedir um quarto novo. Os pulsos e as mãos, principalmente, doíam muito. Tirei as roupas das bolsas e descobri que 98% das peças estavam molhadas ou molhadas e sujas. Espalhei tudo pelo quarto, tomado por um desânimo sem tamanho. Liguei o ar-condicionado, tomei um banho e decidi sair para a Cidade do Jazz, local do palco principal do Festival, não muito longe de onde estava hospedado. Lá comi alguma coisa, assisti a um pedaço do show da Orquestra Kuarup e uma das apresentações da Orleans Street Jazz Band:
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