Motociclismo: paixão, emoção, perigo e vício
Meu dia normal guarda vários bons momentos. Acordar ao lado da minha mulher, pepinos no trabalho que se resolvem positivamente, a volta para casa depois do expediente, a cerveja com os amigos. Mas ainda há outro: quando estou em cima da minha moto. Não é raro eu pegar um trajeto mais longo, apenas para rodar aquele tantinho a mais. Um deslocamento para o trabalho ou a volta para casa tem um pouco de cada coisa lá do título. A paixão é representada pela decisão na hora de sair: vou de carro ou de moto? Se não houver a mais premente necessidade, vou de moto. A emoção está em cada curva, em cada trecho de aceleração, em cada frenagem. Dá até para sentir a inveja de alguns motoristas, presos em suas gaiolas de aço. O perigo também está em cada esquina. Manchas de óleo que não vemos, defeitos no pavimento (muitos), motoristas que acham que todo motociclista é um inimigo potencial, ônibus, outros motociclistas, bêbados, inconsequentes e malucos de toda sorte. Conheço muita gente que diz "acho moto muito legal, mas tenho medo". Eu tenho medo de ser atropelado num ponto de ônibus por um veículo desgovernado. Eu tenho medo de voar e o avião explodir a 11 mil metros de altitude. Fazer o quê? Não sair mais de casa? Deixar de viajar porque isso significa entrar num avião? O trânsito é perigoso em qualquer veículo. Lógico que estamos mais expostos numa moto. Por isso faço minha parte e procuro não me envolver em situações que me exponham a riscos desnecessários. Às vezes acontecem coisas que fogem ao meu controle. Hoje de manhã, por exemplo, uma moça num Palio se aproximou da rotatória da minha quadra sem sinalizar nada, e pela esquerda. Eu já vinha contornando a rotatória e concluí que ela iria parar, porque pretendia seguir em frente e também contornar o balão. Não. Ela concluiu que podia me cortar a frente e virar à esquerda. Quase fecha o carro que, à sua direita, se preparava para não contornar a rotatória e eu ali, em plena inclinação - moto é feita para isso - sem ter muito o que fazer. Nem preciso dizer que ela fez de conta que não percebeu o que tinha acabado de fazer. Isso me enfurece. Mas não há nada que eu possa fazer. Nada aconteceu, sigo meu caminho e torço para que eu saia ileso da próxima situação de perigo.
E assim chegamos ao vício. Moto é um vício. Um vício bom. Um vício do qual eu não pretendo me curar. Um vício que me faz ansiar pela volta para casa assim que chego ao trabalho. Só pelo prazer de estar em cima da moto, acelerando, freando, inclinando na curva, acelerando de novo. De quebra, deixo de contribuir para o congestionamento da cidade, para a falta de locais para estacionar, para o aumento da poluição e por aí afora. E ainda tomo doses diárias de remédio para minha sanidade mental.
Termino com um mantra: "de carro apreciamos a paisagem. De moto fazemos parte dela."
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