Nós e eles

Vocês vão me perdoar um momento de deslumbramento.Vou falar sobre carros. Os europeus e nossas versões dos mesmos modelos. Sei que os mercados são diferentes, não posso comparar o público-alvo, nem as condições de produção. Produtos industrializados no Brasil são excessivamente taxados, sem exceção. Basta ver quanto custa um iPad no Brasil e nos EUA. Bem. Guardadas as devidas proporções e resguardadas as diferenças, vamos acochambrar um pouco. Ah, não vou sequer mencionar as diferenças técnicas, de equipamentos, etc. Não vai resolver nada, mas desopila.
Vamos começar com a francesa Renault. Chegou há alguns anos no Brasil cheia de marra, lançou excelentes e sucessivos modelos, atualizou-os com os modelos vendidos na Europa, até que...cansou. Aí, a coisa ficou assim:
Renault Clio. Nosso.
Engraçadinho. Baratinho. Boa relação custo-benefício, né? Então.
Renault Clio. Deles.
Vamos passar para aquela que é a marca que mais tem carros bizarros e defasados do país.
Chevrolet Corsa. Nosso.
Nesse eu fui bonzinho, pois essa foi a versão mais recente. O "bolinha" ainda vende na horrorosa forma de sedã.
Opel (a Chevrolet na Europa substituiu a Daewoo) Corsa. Deles.
Eh, eh. Já está atirando o telefone na parede? Fazendo vodu com o cartão do vendedor? Tem mais, caríssimos, tem mais. Volkswagen.
Os executivos da VW, quando informaram da "atualização" do Golf, disseram que o Brasil não receberia a quinta geração do hatch porque a plataforma do 4 era muito melhor. Então fizeram isto:
Não vou mostrar a traseira. Deixa pra lá. Deveriam ter deixado o carro como era.
Quer ver o Golf 5? É a cara do Jetta que acabou de sair de linha. Vou deixar você, caro leitor, ainda com mais ódio, mostrando o VI que, aparentemente também não vai sair no Brasil. A VW, entretanto, está considerando com carinho a possibilidade de lançar o próximo. Considere-se feliz se eles levarem ao menos o Scirocco.
VW Golf. Deles.
Hiii, hi, hi, hi.
Vamos voltar à minha vítima preferida, a Chevrolet. Vira e mexe uma revista testa carros médios e aponta o Astra como um modelo a ser considerado sempre, ótima relação custo-benefício e tal. Lógico! Já faz 30 anos que o carro é vendido no Brasil do mesmo jeito, bicho.
Chevrolet Astra. Nosso.
AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH. Que susto.
Opel (yadda, yadda) Astra. Deles.
Eles ainda tem uma versão perua que é ducacete.
Chega? Não. Mais um, vai.
Renault Mégane Estate (perua, para quem não fala carrês). Nossa.
Permitam-me recordar que este é hoje o único modelo da família Mégane à venda no Brasil. Vou poupá-los de mostrar todos os outros modelos da família disponíveis nas Orópa. Nós ganhamos o Fluence. Que parece ter sido projetado pela Chrysler há 20 anos.
Renault Mégane Estate. Deles.
Repito que sei que os mercados são muito diferentes. Alguns modelos estão menos defasados, outros mais. Mas ainda temos modelos no nosso mercado feito Corsa sedan (que a GM chama de Classic), Vectra, Meriva, Fiesta (alguns modelos), Citroën C3 e por aí vai. Como a gente compra tudo o que empurram, e o que ainda vende continua em linha (falta de opção não é, então não sei), as fábricas acabam por se acomodar. A Renault sofreu com sua rede autorizada e hoje consegue seu sucesso com carros feitos para o terceiro mundo. Desculpe, mercados em desenvolvimento, como o Logan e seu derivado Sandero, que são simprões, de projeto velho e feios de doer.
A variedade de modelos de outras marcas, inclusive, que poderiam estar disponível para nosotros é tanta que eu precisaria de outros 3 ou 4 posts só para dar uns exemplos.
Enquanto isso, a era das carroças ameaça voltar, se as fábricas não tratarem nosso mercado com o respeito que merece.

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