ON de novo
Eu tinha me esquecido dele. Já fiz um post sobre o homem, sobre como ele pensa que pode dizer o que fazer com Brasília. Escrevi sobre a absurda praça da República (acho que era esse o nome), com seu ridículo obelisco de concreto que ele queria encravar no coração da cidade. Dizia que a cidade estava precisando de praças. Não as dele.
Recentemente, durante nossa passagem por João Pessoa, fui lembrado de sua existência. Ao passarmos pela Cidade da Ciência e Tecnologia (acho que é esse o nome), o nosso bugueiro orgulhosamente apontou para os prédios e disse que eram obra dele. Vejam:
Parece óbvio que a "obra" é dele, não? E é óbvio simplesmente pela ausência de verde. Não falo de grama, falo de árvores.
Não nego que o sujeito tenha sido um gênio no seu tempo. Hoje, infelizmente, suas obras guardam a marca registrada do gênio, mas não têm nada de genial, sendo meras reciclagens do que ele já fez por aí. Como gênio teve seu auge e deixou sua marca. Como arquiteto, parou no tempo. Dá para ver o Museu de Arte Contemporânea de Niterói no prédio de João Pessoa, assim como dá para vê-lo no Museu da República em Brasília - que, aliás, é uma obra extremamente mal executada. As mesmas rampas estão lá. O prédio que eu mostro ali em cima lembra muito o Memorial JK, também em Brasília, aquele bloco de concreto que qualquer criança desenha numa brincadeira inocente, tal a falta de imaginação. A Biblioteca, argh, Leonel Brizola, foi feita à imagem e semelhança de outros edifícios na cidade.
Aqui, na capital federal, existem pessoas que não podem ouvir falar no nome do arquiteto que se molham de êxtase. Exagero? Houve gente que achava que, sim, a Praça da República - ou seja lá qual for o nome da coisa - tinha que ser construída, sim.
Mas eu desafio essas pessoas a darem um passeio com o arquiteto pelas ruas da cidade, numa segunda-feira, lá pelo meio-dia. Lúcio Costa, com certeza, não iria gostar do cenário. Nas áreas centrais da cidade não há um espaço sequer que não esteja ocupado por carros. Carros, carros, carros e mais carros. Por todo canto. Nas áreas próximas aos setores de autarquias sul e norte, setores hoteleiros sul e norte, setores comerciais sul e norte, as faixas da extrema direita das ruas viraram estacionamento. A polícia nem se dá ao trabalho de multar mais, pois não há alternativa. Os edifícios não tem vagas suficientes. Na Esplanada, os ministérios não tem vagas sequer para seus funcionários. Gostaria de ver ON propor uma solução para esse problema. Adoraria ver uma obra sua que não seja uma proposta vazia, e nem me importo que seja um bloco de concreto saído direto da Rússia comunista. Desde que tenha uma função e que a cumpra. Brasília está ficando cada vez mais sufocada. Não política nessa área. O governo trabalha para melhorar o acesso à cidade. Beleza, assim mais e mais pessoas poderão tirar seus carros da garagem e vir para Brasília onde não terão onde parar!
No Brasil não se incentiva o uso de veículos mais práticos como a motocicleta e similares. Em Brasília não é diferente. Vagas exclusivas para motos são raras. Detalhe: numa vaga onde se estaciona um carro pequeno, dá para parar até seis motos.
O transporte público deveria cobrir essa lacuna. Nem vou entrar no mérito dessa questão. O que se vê são terrenos e mais terrenos vazios que poderia estar sendo utilizados para edifícios-garagem, mas que acabam virando prédios de escritórios chiques para abrigar os lobistas que circulam pela capital. Há uma infinidade de áreas que poderiam virar estacionamentos subterrâneos e que não afetariam o "Plano Original" da cidade tombada. Até mesmo nas entrequadras residenciais esse tipo de empreendimento poderia ser implantado. Bastaria licitar direito e entregar os projetos e a exploração à iniciativa privada. Quando uma cidade carece de conforto para seus habitantes, deve-se começar a buscar alternativas e, por que não, cobrar por elas. Esperar para que o governo sozinho dê solução é acreditar em Papai Noel e coelhinho da Páscoa.
Comentários