Dirigindo

Minha carreira de motorista não começou cedo, sempre fui das motos. Tirei a habilitação quase um ano depois de completar dezoito anos. Fui reprovado uma vez no teste prático (uma bobagem). Só fui comprar meu primeiro carro com vinte e tantos anos. Depois disso, meio que abandonei as motos até o ano passado. Nesses anos dirigi em muitos lugares. Considero-me um bom motorista. Cuidadoso, se não habilidoso. Reflexo dos meus quarenta anos talvez. Qual o pior lugar para se dirigir? Qualquer lugar que não se conheça bem. Depois de algumas semanas dirigindo na Arábia Saudita, acabei me acostumando. Na época tinha um carro pouco comum por lá e de tamanho reduzido. Sentia-me ainda mais "reduzido" ao parar nos semáforos ao lado de singelos SUV americanos e japoneses. Já viu um Suburban da GM, com lugar para 500 passageiros e motor de 8.7 litros? Não? Bem, o número de passageiros é exagero. Cada cidade tem peculiaridades e seus moradores desenvolvem certo hábitos que se tornam meio que regras de trânsito. Andar em velocidades sempre acima do recomendado é uma regra muito praticada na maioria das cidades brasileiras. Não sinalizar suas ações também. O motorista médio brasileiro acha que senão tem ninguém atrás não há porque sinalizar. O problema é que esse motorista adquire o (péssimo) hábito de NÃO sinalizar...
Na Arábia Saudita eles adoram copiar os americanos. Copiam-nos em muitas coisas: nos carros imensos, no exagero com comida e por aí afora. Copiam-nos também em certas regras de trânsito. Uma que acho excelente é a seguinte: imagine duas avenidas que se cruzam. No Brasil, você não pode sair de uma e virar à esquerda em outra. Por lá sim, pois os semáforos são polifásicos, o que significa que cada lado das vias tem sua vez. E é permitido virar à direita direto. Você só tem que parar, olhar e entrar. Parar. É o que dizem as placas de "PARE". Não sei se isso daria certo por aqui. Exigiria uma boa dose de reeducação. É fato que na Arábia Saudita, se você não parar ninguém vai lhe multar. Mas nos EUA, as chances de levar uma canetada são grandes. Não estou dizendo que coisas erradas acontecem. Acontecem e aos montes. Pare significa que você tem que...hã...parar completamente o carro, e não apenas diminuir a marcha. Essa é outra característica dos motoristas daqui, nunca querem parar por completo, ou diminuir a marcha. e se você o faz, lá vem buzina.
Nossas vias têm características que poderiam ser alteradas. Por exemplo, faixas de aceleração. Quando o motorista vem de uma pista de serviço para entrar numa via rápida, por exemplo. A pista de aceleração é "fechada" para o tráfego que vem pela via rápida, para permitir que quem sai de uma via lateral possa entrar nela, atingir a velocidade da via e posicionar-se com segurança. Por aqui é comum ter um pequeno trecho de pista de aceleração, em geral já dividindo a pista com o tráfego que vem a uma velocidade maior. Situação complicada. Em Roterdã, por exemplo, contornar uma rotatória era tarefa facílima desde que você se posicionasse, na pista de entrada, tendo em mente onde exatamente você pretendia sair. O resto a própria pista fazia por você, sem sustos.
Costumo dizer que se você sobreviveu ao trânsito no Oriente Médio, você sobrevive em qualquer lugar. Descobri, nos meus anos de Holanda, que motoristas ruins existem em toda parte. Eu morava no centro e me divertia assistindo às tentativas de estacionamento na rua em frente ao meu prédio. Por lá as calçadas são baixinhas, o que permite que os motoristas entrem de frente (e, pois é), subam na calçada e estacionem sem muito esforço. O que isso acarreta é uma tremenda incapacidade de fazer balizas mais tradicionais, como estacionar de ré. Maus motoristas são uma praga que desafia trânsitos bem organizados como o holandês - poderíamos importar muita coisa de lá, como as faixas de aceleração e outras, ou autoridades super-vigilantes como as britânicas. Vi maus motoristas por tudo quanto foi canto por onde andei. O motorista brasileiro é bom, mas mau-educado. O nível de egoísmo no trânsito ainda atrapalha demasiadamente. Dizem que países escandinavos tem uma combinação perfeita de trânsito organizado e motoristas educados. Nunca dirigi por lá. Como em todo lugar eles devem ter seus senões.

Comentários

Ana disse…
eu gostaria de me acordar de manha já sabendo dirigir, com carteira, carro pago na garagem...nunca aprendi, nunca tentei, os anos morando fora nao ajudaram e hoje acho que o gasto pra ter um carro nas minhas condições nao valem a pena. Mas no Brasil, sem carro é dificil porque o transporte publico é muito complicado...

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