Coisas que a cidade esquece
Vez por outra nossos administradores públicos criam leis, regulamentos e outros atos do gênero com o propósito de coibir todo tipo de prática. Normalmente a coisa toda segue padrões da moda ou reclamação geral da comunidade.
Há não muito tempo, o governador do Distrito Federal, seguindo o exemplo do prefeito de São Paulo, resolveu bolar a lei da cidade limpa. Brasília era, então, uma infestação de placas, faixas e outdoors de todo tipo e tamanho, afixados em qualquer lugar, sem o mais vago critério. Havia faixas anunciando cursos, feiras, garage sales, eventos de todo tipo, vendas de apostilas, serviços de digitação e por aí afora. Os outdoors estavam (bem, muitos deles ainda estão) por toda parte. Faixas nos canteiros centrais, em árvores, em cercas, nos gradis de pontilhões e viadutos, fachadas de edifícios, etc. A fiscalização sempre existiu, mas nunca coibiu qualquer dessas práticas. E olhem que não era difícil: todas elas continham, pelo menos, um número de telefone. Já ouviram falar em fiscalização inteligente? Pois por aqui isso não existia. As autoridades alegavam falta de recursos. Ok, vá lá.
Mas aí veio a legislação pertinente e a fiscalização, e por algum tempo as faixas - úlceras na cara da cidade - desapareceram.
O tempo passou e os "colocadores de faixa" encontraram pequenas brechas na legislação. Por exemplo: as faixas não são mais fincadas no chão, mas ficam de pé por força e obra de trabalho contratado, sabe-se lá por quanto. Duplas encarregam-se de chegar pela manhã aos locais indicados e de segurar as faixas até o fim do dia. Tecnicamente as faixas não estão "afixadas" mas somente sendo apresentadas ao público que passa. Ridículo, não? Pois é. Mas a criatividade vai mais longe. Nos setores onde se localizam as concessionárias e oficinas, caminhões - isso mesmo - caminhões com gruas são estacionados em área pública como canteiros centrais e áreas vizinhas às vias de acesso e das gruas são dependuradas faixas gigantescas que ali permanecem durante o dia todo. E a fiscalização o que acha disso? Quem sabe? Em datas espceciais como o dia das mães, os senhores deputados distritais fazem a sua parte, o desserviço de colocar faixas - pequenas, mas numerosas - por toda parte, "parabenizando" as mães pelo seu dia, ou o que quer que seja a comemoração do dia. Aparentemente a legislação não prevê punição para o senhor distrital. Ele, eleito pelo povo, e que deveria ser o primeiro a zelar pelo cumprimento de leis, é o primeiro a descumpri-las. Curioso é que isso só acontece em anos que precedem anos eleitorais. Como se com isso eles esperassem refrescar a memória do eleitorado. Seria ótimo que o eleitorado mantivesse essa memória fresca no dia da eleição e se recusasse a reeleger deputado sujão e desrespeitador de leis.
E as faixas, assim, voltam às nossas ruas, com toda força. Impunes.
Lá em cima, fotos em diversos pontos da cidade como Sudoeste e Asa Sul.
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